domingo, 11 de setembro de 2011

LIVRO NEGRO




MUROS


Criei-te meu olhar.
Os muros são vazios por dentro.
E o grito continua paralisado.
É outra vida a vida que nos move, é outra vida que não é a nossa, é a vida de todas as vidas que não são nossas; e a vida que é nossa tem de passar por todas as vidas antes de chegar à nossa; mas eles e nós somos nós, eu e tu. Assim como a tua vida se resume ao eixo de todas as outras, também todas essas se resumem à vida que é do teu íntimo. São estas as faces da caveira: a morte e os mortos.

A menina que chora no varandim do Mosteiro é a expressão das porções que se perdem entre as partes. É o seu choro que nos dá a tinta para escrever.

Todas as faces são faces de uma só face; o teu eu é os muitos aspectos da equação da tua personalidade, mas tu és o aspecto de uma personalidade maior, eu sou o X, a incógnita, e só eu é que crio o diálogo, as letras e as artes.

Nutre o amor dos deuses, porque os deuses não existem e a única forma de haver lucro é depositando vida no morto, tudo o resto já existe, já é teu, e tudo o que é teu é uma porta fechada para o teu é.

As equações da consciência são, na verdade, simples, mas imagina que um matemático se identificava com um número em especifico e repetidamente se quedava nele, impedindo o fluxo inteiro das operações, a própria ciência se encarregaria de renegar este homem.

Mas digo-te agora uma premissa estranha. Todas as operações se resumem a um só número no culminar dos seus resultados, não interessa ele qual seja. Pois que seja então aquele numero que não interessa.

(d2y/dx2)3–2xy=1

Existe um componente aleatório na natureza, isto é, nas inter-relações e na reacção de uma coisa à intensidade da outra, um sistema imprevisível e não linear, eu sou esse elemento inesperado, o monstro inteiro das vidas múltiplas elevado a um familiar desconhecido de nome Phalucifer, e as varias pedras atiradas ao lago da consciência individual e colectiva, criando a ondulação espiralica múltipla e multiplicada sem freio, em fractal, são todas compostas do nome Babalith, e este é o Estranho Atractor, o ponto nulo de velocidade zero que atrai todo o movimento, por conseguinte movendo-o. Ela é a velocidade zero quando a própria velocidade zero toma fôlego e se move, acto continuo, a incerteza das formas circulares à sua volta. Eu nunca me teria imaginado dentro de mim, como um alienígena parasita, não fosse por fracção cujo movimento dos ângulos se chama imaginação.

Tudo te será retirado pelos estranhos entre tudo e tudo, menos isto, e isto é o tudo em possibilidade. Tudo é possível, e nada é totalmente atingido e cumprido. Por isso, a anarquia do acto é a saúde da sanidade, a libertação não só dos homens e dos animais, mas de todas as ideias e sentires, e libertar não é reprimir, mas muito menos é agarrar.

Olho, com meus olhos de gato.

O circulo de água à volta do fogo central.

Onde está a origem do pensar?

Escuto onde todos vocês dormem,

Frases que se tornam grunhidos

Ou suspiros de sapiência. E quebro, e volto ao início.

Agora podes-te rir e
Imaginar, que o teu riso
Na sua espiral
É a imagem essencial do teu
            Estranho Atractor.

Sempre que te ris
                        Babalith acorda
                        Para devorar os filhos
                        Do fogo
                        Eu sou Phalucifer, e eu
                        O fogo
                        O riso é o tantrismo
                        De Phalucifer e Babalith
                        O sexo não é nada
                        Senão a Vontade
                        De penetrar tudo

E por tudo ser
Penetrado
Tudo o resto não
Nos diz
Nada.















COMÉRCIO


Mastigo pedras, observo o fio do pensamento emanar o seu feitio no espelho reflexo do limite do sonho, Ah rasgo genial, e eu entro pela porta de negro, que é branca verdadeiramente, pois que absorve todo o espectro de luz e na verdade nem é preta nem branca, a única coisa que é branca ou preta ou branca e preta no universo é a minha intenção. A minha obsessão de que as coisas carreguem consigo comportamentos previsíveis que eu possa controlar. Para todos os efeitos aquele ente pode ser de todas as cores ou nenhuma de muitos pontos de vista, seguramente tão correctos como o meu, quando digo que é preta. A técnica lógica alimenta todos os argumentos e todos eles são correctos, mas todos eles são falsos, e na verdade nem são falsos nem verdadeiros. Ah morram as ideias, a voz são fios de sonho, e eu vou usá-la para me içar ao outro lado.

E vou fazê-lo contigo… não queres? …

…acabo sempre por te perder, por causa dos sonhos…

Porque é que sempre me sinto tão só que tenha de partilhar este estado?

Porque não aprecio a vida pela vida e sinto sempre necessidade dos velhos condimentos da minha avó, amizade, sexo, amor e diversão.

Há uma saudade, a saudade que é impulsionada pelo pensamento, que é mais real do que o pensamento. Há a tristeza, a nostalgia, que se parece com a essência das coisas e que não acredita, que se recusa a acreditar no perene. Os homens vivem com o poder de fantasmas, fantasmas com frio porque se queimam no calor de paixões que sobrevivem à brevidade da vida e se apoderam da durabilidade da morte. Esta concepção leva os homens à crença de que nem a morte física levará as suas consciências à extinção. Para se obter poder real, o homem tem de se libertar das suas assombrações, para ser assombração ele mesmo.

Contempla todos os teus amados, tu mesmo, e tudo o que amas, como os lugares e os sabores, contempla-os como o rosto da morte, serena, inexorável, eterna, e com toda a vida e todo o cheiro pulsante da natureza: esta é a chave de volta ao Éden. Depois, ama livremente, porque, daqui em diante, será a tua única forma de amares, e não temerás nunca mais as indulgencias nem as abstinências, as tuas próprias palavras serão grandes no livro da vida. Se eu sou um mensageiro, é para esta verdade e para nenhuma outra. Sangra… o Sangue é a moeda.

AHA. Hoje não me apetece trabalhar. Hoje sinto-me inspirado, hoje vou dormir. É fácil, deitas-te de barriga para baixo, braço direito dobrado, dedo indicador da mão direita (fechada) esticado e a pressionar os lábios, cabeça virada para a direita, sem almofada, braço esquerdo ao longo do corpo, levemente afastado dele, mão virada para cima.

Adormece nesta postura. Mantém um registo, …

            Suspiro.

Não um registo, PORRA! Inspira-te do fermento e transforma-te, misturando-te, fodendo o caos, Porra! Envolve-te no fogo criativo do sonho e faz magia, livremente, a Regra é A liberdade, A Regra é o Amor, A Regra é o Caos, AHA! Não há disciplina senão faz a tua vontade, que merda, caralho, queima tudo o que te force a imaginar que O Universo e o seu segredo estão Sepultados na fórmula complexa do Número, da letra e da Razão. Morte às 3 inimigas de Mim. MORTEEE!!!!!!

Incorpora tudo o que precisa ser incorporado, Não tenhas medo, deixa-te ir, AHAHAAA cospe em todas as superstições e inventa as tuas sempre que a tua imaginação te estimular a fazê-lo. Liberta-te Homem. Usa penas na cabeça, anda porco pelas ruas, brinca aos pulos com os animais, apanha coisas do chão como as crianças, Ah! E guarda-as como tesouros, usa-as com a tua imaginação e nas invocações que fizeres. E NÃO uses nomes nas invocações. NÃO HÁ DEUS E DEUS QUE HÁ Nome não tem, Retira a tua cara por momentos e vê o ridículo no olhar dos outros e observa com amizade a tua vergonha. Não sejas servo de um nem de outro, sobrepõe-te aos dois através do ACTO inesperado. Esta é A Bíblia do Caos, esta é a lei da Anarquia.

Eu trabalho contigo, e eu trabalho sempre contigo, não importa aquilo que fazes, eu sou aquele que contigo trabalha, porque tu trabalhas para mim.

Este livro… este livro, este livro é criado em teu nome, como um feitiço para te chamar, para te prender.

Sejas tu quem fores,

Sejas tu o que fores.






LOUCURA


O dinheiro está na origem do pensar, como a ferrugem está na origem da vida. A oxidação promove o canto do pássaro através do precipício que vai do abismo ao ouvido do escritor.

O dinheiro esteve na origem de tudo quanto é dito pela palavra humano. Ele formou-se como um fungo em redor do manipulador. E o manipulador cresceu.

O vento uivou com toda a força, e a sua voz trouxe-me gritos infernais ao papel. O vento observou todo o movimento do homem sem o perturbar, mostrando-lhe sempre o caminho.

O homem sempre ignorou o vento. O homem adorou o sol, a lua, os deuses e as casas, o fogo e a fatalidade, a mulher e o tigre, mas o vento ficou sempre secundário nas suas histórias.

O vento é apenas o não feitio do movimento das massas, na circulação gravítica da matéria, entre bolsas de vazio nas imperfeições da esfera materna, repercutindo-se nas abas externas do nosso aparelho auditivo e aumentado pelo contacto fresco da vibração fria na nossa pele.

Fazemos parte de algo fluido, diz o vento, mas nós não queremos saber: Fazemos muros! Fazemos parte de algo que é Mudança contínua, mas não queremos saber, vendemos o que está no interior dos muros. Fazemos parte de algo uno: mas não queremos saber: emprestamos a crédito, almejamos o lucro e criamos entropia.

A criação obedece curiosa à nossa criação e experimenta seguir-nos para ver o que dá. O. Tempo. Fragmenta-se. Nos. Compartimentos. Descontínuos. Dos. Muros. Em. Que. Esvaziamos. A. Vida. Do. Seu. Voo. E.

Negámos a supremacia do vento e da Noite como senhores do universo.

Dissemos: o Sol é o Salvador, A terra é a Nossa Mãe. Vida, Amor, Dinheiro.

E o vento riu-se, brincando com as Pérolas da Morte, da Mudança e do Sonho. E a Noite suspirou, algo triste de ver o seu filho enlouquecer e viciar-se no álcool e nas drogas… que desperdício.

AH, o homem, o Sol, o Romântico, o desesperado. Meteu a galinha dos ovos de ouro numa caixa, matou o seu irmão e escreveu um livro religioso que justificasse a sua atitude, e ensinou aos seus filhos que tudo tem um Preço, e quando o seu filho lhe disse que todos os muros criavam uma ilusão e que a verdade pairava lá fora triste e desiludida, o PAI Deu Um TIRO NO FILHO. E Chamou de PUTA à sua Mãe. E ele, nunca mais olhou para trás, mandou queimar o exterior dos muros, e fez lei de matar e desidratar todo o vestígio de inocência. Fez mais que religião, fez ciência de criar o espírito vil da ganância e escondeu o seu lixo na casa do vizinho, e depois incitou a multidão contra ele, mentindo. O vizinho traído enlouqueceu de ódio e combateu ferozmente não poupando nada nem ninguém, e o Homem vendeu armas à sua multidão e ao inimigo, e assim foi criado o Bem, e a multidão adorou o bem, e o bem consiste em perdoar o Patriarca, em ter fé cega nele, negando tudo o que possa ser dito sobre o seu instinto perverso e homicida, segui-lo nas suas manipulações, odiando o bode expiatório da sua consciência doente de culpa e da sua ambição que podre de vergonha, ambição por lucro, poder, domínio.

E o vento, espalha as brasas sobre a jóia da vida, ajudando o Patriarca no seu trabalho suicida, e as multidões assustadas emitem teorias, mas o patriarca sossega-as e… Culpa o Vizinho, e Nós matamos o Vizinho e o Vizinho mata-nos a nós, e Nós comemos hambúrguers de carne de animais bebés, e fodemos em camas feitas de arvores da amazónia e o Mundo Arde e Nós Vemos Televisão e jogamos monopólio e odiamos o Cabrão do vizinho, e o vento leva o fogo, e o vento é só o mundo. Nem mau nem bom, mas a noite chora ao ver o seu filho morrer…

Sento-me sobre uma rocha partida, que em tempos foi hermafrodita e escrevo: as nossas mãos são túmulos. As nossas mãos são túmulos. As nossas mãos são túmulos. Tenho medo, pai, e tenho medo, mãe, porque eu já não tenho nada, tudo me foi tirado, e parece que até eu vou desaparecer. Em tempos amei como ninguém, e hoje amo ninguém. O teu cabelo prendia as estrelas e a tua pele prendia a Lua, eu ajoelhei-me e cantei-te uma serenata, eu contemplava-te e pedia um desejo, e tu levaste os meus desejos, um a um. Ficou só a saudade, a saudade de te dar ainda desejos, de possuir desejos que pudesses ainda levar. Não escutas os sinos? Irmã. Não ouves os sinos? Irmão. É a voz da criança muda. Ela anuncia os devoradores, a que chamamos de guardiães. Eles disseram que eram o pilar de tudo, mas reduziram o meu mundo a cinzas, eu olho em volta, e ninguém as reconhece. Eu sou uma fogueira preparada para vocês, eu crio cinzas para vocês. Talvez porque pensei que não fosse possível ser amado de outra forma. Afastem todos os estranhos, eles são piores do que sofrer-vos. Afasta-os de mim. Cala as suas vozes. Deixa que só a noite fale, e o fogo paralisado do dia, que é semelhante ao ardor da Lua. Eles são os mosquitos que ainda bebem o que resta da seiva da madeira queimada dos meus ossos. Não há vida para mim aqui, deixa-me agora ouvir a voz da morte, a dança dos mortos, os olhares vazios, e poder ainda cantar-te como a CONCHA do deserto canta o mar. Não permitas que eu tema na última hora. Ainda que tema em todas as outras, não permitas que tema na última das horas.

Eu deixei que o pensamento se elevasse acima de tudo, que todas as emoções me matassem no seu turibulo, que a fome fosse uma satisfação, e a arte o casamento de todas estas coisas, então, o Sol que me deu vida fez-se negro e secou-me até à ultima gota de sangue: Quando chegar o ultimo momento, não deixes que tema. Quando encontrar a besta em campo aberto, não debaixo da cama ou escondido no roupeiro; quando o terror retirar o seu capuz a que chamamos de esperança, não deixes que me falte a coragem de ceder.

Agora, também eu sou os pilares do Templo, e acertadamente um Guardião do Casebre Secreto. Agora, os Gigantes Reis do Inferno tocam com os meus ossos no tambor da carne dos homens. A bruxa de olhos verdes chama por mim nos sonhos dos outros, e eles sonham por isso. Agora, os copos vazios embriagam os anfitriões do meu Sabbat, eu bato palmas, e todas as covas se descobrem. As nossas mãos são como túmulos. As nossas mãos são como túmulos. As nossas mãos são como túmulos.

Beijo os Reis do Inferno na boca, e eles tornam-se mulheres de estrelas a prender o cabelo e pele de prisão ao fogo e à lua. Ajoelho-me, e canto-lhes uma serenata. Pedem-me desejos e eu devolvo-lhes a virgindade. Canto a Vesta, e ela despe-se para mim. Os elementos reúnem-se à volta do meu coração, para se transformarem em fumaças diversas e intoxicar as devoções humanas.

Chamam-lhe Amor.
Mas eu sei que é dor, porque já não a sinto.

O Sol é o Salvador… Os tempos mudam.

Eu disse ao meu pai que a vida era só um sonho, que a verdade espreitava desesperada fora dos muros e ele encolheu os ombros e não quis saber.

Eu saí e fui ao encontro dela, e o Patriarca e a multidão estavam tão enlouquecidos que se esqueceram de me punir ou perseguir.

Estavam tão dentro dos seus jogos de horror e manipulação que se esqueceram do seu único inimigo comum, o vento.

O vento enviou-me chacais, e eu tornei-me como eles e afastei-me pela noite. Mas o vento ordenou-me que voltasse e me infiltrasse na loucura dos assassinos a crédito, que introduzisse no código binário da política da deflação o vírus da sinceridade, que deixasse ao acaso no vomitado do entretenimento o veneno da humildade, que contasse em segredo ao ouvido dos enfermos as histórias de coragem dos Antepassados, e que revelasse aos escolhidos do vento o espírito mudo do guerreiro.

A Noite nunca desistirá, ela lutará até ao fim contra as pessoas.

As pessoas são mascaras e elas já estão no fim, só que não se contentarão até que o Fim seja maior que o batimento cardíaco de PAN.

PAN é o Homem.

EU SOU PAN.

Tira a tua cara e coloca a mascara do caos, celebra PAN e a Noite, segue o caminho do Joker e talvez o Império do Patriarca caia. Dentro de ti e dentro de mim o Olho do Dragão começa já a abrir-se, pois somos um.

          Tu e eu somos um.

          A dualidade na verdade não existe, ela é a ilusão criada pela repetição de imagens de muros, de palavras talhadas para serem imunes ao espírito da verdade, pela covardia forçada à lei da bala.

Mas a loucura do Patriarca destronou-o da sua vigilância apertada. Hoje meu filho, o vento favorece os seguidores de PAN e da Sagrada Prostituta.

Eleva-te acima dos muros e sonha alto, eles não te reconhecerão como inimigo, eles não sabem sequer como te chamar e por isso eles vão-te ignorar.

Afasta-te do rebanho, pois o vento conduz o rebanho para a morte. O Patriarca é a antítese da vida.

A unidade é uma agulha que deves espetar no teu dedo. A unidade é a saturação da visão no padrão disforme do que há para além das palavras.

A unidade é o mais simples dos estados, e é teu, meu amigo. Meu calor no coração, minhas asas de liberdade.

O sol há-de brilhar em Amor e Saúde, e um sorriso há-de alastrar na face crepuscular e o vento há-de elevar à vitória aqueles que não venceram porque não lutaram, não foram tocados pelo manipulador, mas amaram a unidade de tudo através dos muros, pois foram tocados pela verdade.

E um dia, e esse dia é hoje, acordaremos, e eu desperto agora Para o Riso do Rei De Coisa NENHUMA, e todos nós somos um único filósofo que ama a vida e respeita a simplicidade das suas regras e faz amor com toda a natureza pelo simples facto de que está feliz.

A utopia só pode ser expressa pelo fim do rebanho, a utopia só pode ser expressa pela loucura terminal do patriarca, a utopia só pode ser expressa pela coragem aliada ao desapego.

O fumo das palavras é areia no olhar.

O manipulador é invencível, ele é a força mais poderosa da psique humana, é impossível vencê-lo.

Menti-te, iludi-te com a minha fábula.

O caos e a loucura são pratos, que como a vingança, se servem bem frios…

Adeus.











LASHTAL

Ratos rasgam o precipício
Da escuridão, eles rompem o
Ventre da criação, eles
Tocam-me com o vento
Da desilusão, e os véus
São destituídos de realidade.
Como o fumo que se afasta
Por um momento.

Sou feliz ao menos
Por ter visto um pouco
Do que o mundo devia ser.

O fumo teima em alastrar
A terra ventre de fogo subterrâneo
De ratos e baratas dominantes
De ignorância e ditaduras
De bestas e sorrisos dilacerantes.

A terra, nascente de fogo
E o fogo é o senhor da dor.

No sonho de Verão em que me

Tornei, numa torrente desenfreada

De Inverno liquido de dura

E revoltada introspecção,

Pelo chicote imperdoável dos Mestres

Eu obedeço humilhado

Às cegas num universo que

Nunca compreendi e fora

            Dos muros, sempre os fantasmas

            Da hostilidade e da dor e do

            Abandono e do ridículo,

            E todo o medo inventado e usado contra mim.

            Eu sei que tenho de ir além do

            Muro.

            Eu sei que tenho de ter coragem,

            Eu sei que tenho de morrer,

            Mas o que fazer do meu corpo,

            Uma náusea que diz: Eu sou eu.

           
            E a luz adormeceu

            E os olhos encheram-se de lágrimas,

            De onde desceu o sonho de um

            Belo dia passado num parque solarengo

            Nos Açores, terra de fantasia

            E num lago o cisne dançava

            Deslizando docemente nos

            Meus olhos de predador assustado

            Todo o medo me rodeou

            Pois que a minha consciência

            Já não era minha

            E cada um dos seres que eram

            Antes os muros da minha sanidade

            Dissolviam-se nas lágrimas de um rio

            Onde me afogava, no percalço

            De visões de outros que

            Não eu. A ausência da lógica

            E do sentido são a verdadeira repulsa, mais

            Infame da segurança que mantém

            As nossas entranhas intactas.

            E tudo isso foi posto em causa.


            Um mero derrotado na batalha da

            Vida.

            Fui usado por todas as forças e

            Todos tiveram o seu proveito fútil de

            Mim, menos eu.

            De mim só tirei sofrimento.

            E o falso orgulho, de ser Deus, Mago,

            Invulgar, Superior, Místico, Inteligente,

            E que mais… apenas serviu para

            Invocar sobre mim todo o colosso

            Abrupto da nudez.

            Esmagado pela voz do acusador

            Eu suporto a sua voz intolerável

            E adormeço pesado.

            Sou apenas uma pedra no muro

            Que te rodeia.

            Criança.

            O muro torna-te nele.

            Voa enquanto podes, fá-lo por mim.

            Constrói uma casa no deserto

            E chama-lhe coração

            Convida o mar a entrar e

            Deixa-te ir no seu amor,

            Sonha comigo livre e feliz

            E sorridente a dançar.

            Não quero parecer sábio no teu sonho,

            Não quero parecer forte ou corajoso.

            Não quero parecer vitorioso,

            Nem mesmo gracioso.

            Permite-me apenas a inocência

            E o riso breve de me

            Sentir acariciado pelo brilho

            Das flores, pelo toque da brisa,

            Pelo canto dos pássaros

            Numa agradável tarde de Verão.

            Sonha-me a voar, meu lindo e

            Ama-me. Ama-me muito.


            E as horas continuam a correr

            Já não me importo.

            Não tenho nada para fazer.

            Estou só como nunca estive

            Nem a mim próprio tenho para me entreter.

            Amanhã parece…

            O amanhã parece tão vazio.

            Se ao menos me quebrasses

            Desculpa.

            Tudo o que disse, toda a arrogância.

            Quem sou eu? Quem sou eu para te julgar?

            E tudo isto escorre sem sentido

            Como sangue despejado

            Ao acaso, como água retirada

            De um lago paradisíaco

            Para o chuveiro de um gordo nojento

            E esse gordo sou eu,

            Gordo de toda a merda que me infecta.

            Não admira que os meus sonhos me assustem

            Sou tão pequeno

            Sou tão covarde

            Sou tão ínfimo cá por dentro.

            E este gesto de tudo duvidar

            Às vezes até me parece espiritual

            Mas não passa de um ansiolítico

            Para poder dormir um pouco e

            Não chorar ao acordar.

            Ao menos na dor de uma tragédia,

            Que exagero, de um drama vá lá,

            Senti-me puro e equilibrado

            Justificado na minha conduta.

            Fiz coisas que ficaram.

            Ajudei pessoas

            Fiz planos e sorri

            Amei e gerei vida

            Encorajei outros a acreditar

            Agora sou só cinza e fumo

            Sem dor é verdade

            Mas sem vida

            E tudo em mim me faz vergonha

            E por muito que o lagarto me diga

            Que a vergonha que sinto é o germe da coragem

            Do guerreiro, sofro por um ordálio

            Que me parece hoje, um mero erro

            Capital nos meus gestos mágicos

            Arrogância, prepotência, preguiça e covardia

            São os melhores epítetos que me descreveriam

            Não fosse eu ao menos inocente na minha tremenda ignorância.


            Espero que o lagarto me visite esta

            Noite.

            Espero que o rei lagarto me mostre o caminho.

            Não sei para onde me virar.

            O muro cercou toda a minha visão,

            E o nojo de toda a falsidade que mora dentro

            Da TV e de todos os crânios que visito para

            Me esquecer. E toda a negatividade que tenta

            Derrubar-te, e toda a negatividade que tenta

            Derrubar-te, e todas as dividas que te tentam

            Sugar, elevam-te como um mártir e eu

            Rendo-me. Tive medo.

            O meu egoísmo dominou-me.

            A minha perversão injuriou-me

            Desci mais baixo para conhecer-me

            E dei comigo perdido…

            Sem valor, sem amor

            Desejando que me perdoasses

            E que o mundo inteiro me esquecesse

Sou um verme, um rato miserável

            E nada posso fazer.

            Estou cercado por um muro de quatro paredes

            E não compreendo.

            Não compreendo o que há para compreender

            Nesta vida tão desgraçada.

            Fujo pateticamente ao encontro com a verdade.

            O chacal ainda acredita em mim?

            Para quê, porquê?


Café marroquino…

Um licor para assassinar mais um
Fátuo momento em que me
Enamoro da solidão.

É fácil.

Mas nós amamos obsessivamente
O difícil.

O mar é azul, e o céu, mas Lá-está
O azul junta, o verde encanta
E o vermelho, o vermelho maravilha.





















PHALUCIFER

Chuva de raios-estrela
Nos olhos chorados e doirados

Átomo-estrela explosão
No ventre da criação
Luminoso armamento
Chifre curvo
Do Deus Solar.

Raio alvorada no meu espírito
De sorvedura sôfrega
De ilusão.

Lúcifer. Hadit e o sopro
De derramada aspiração
Ao divino ser.

Crio no momento
Sacrifico
Arranco o quadro aos pedaços
A construção continua do macaco
Da mente.

Quem se cansará
Primeiro: ele ou eu
Quando chegaremos à exaustão
Quando desistiremos da divisão?

Cessa as imagens
Luta feroz como um tigre
Luta comigo até ao último
Suspiro, por que te amo
Eu amo-me profundamente.
Abismal-mente.

O sol nasce todos os dias. O problema fundamental não é o ego, mas os egos. Se o ego fosse um, então ele seria o salvador. Pois seria a unidade. O ego sendo um é a tua unidade, o teu salvador.

O problema são os egos.

O problema fundamental são os egos.

A roda está cortada em várias fatias e as fatias são os muros e os muros as fantasias.

A astrologia reflecte bem esse problema, para os antigos os astros eram o circulo e isso só por si os asfixiava de tédio, e por isso eles investiram com estrondo contra a ditadura do circulo e inventaram a espiral, e com ela viram que o circulo, a espiral e todas as formas ordenadas estavam limitadas e limitavam-nos à morte do tempo, e ao aprisionamento na descontinuidade da realidade e na confusão vã da discussão acerca da realidade e de quais os gestos que devem ou não dividir os homens aptos dos inaptos, e depois a morte tornou-se tabu e o amor comércio, a religião dogma e do circulo, da palavra escrita, e do espírito foram feitas centenas de milhares de prisões, e em cada uma delas um pedaço de carne da nossa alma foi despejada a apodrecer numa gaiola ao sol. Vivemos sepultados centenas de milhares de vezes abandonados por nós e de nós próprios. E a aglutinação parece um desafio demasiado difícil.

O que foi pretendido nesta divisão?

A resposta está no primeiro símbolo dos astros, antes do caleidoscópio de fragmentos das cartas natais que hoje nos definem. Antigamente eles desenhavam um círculo e um ponto e diziam, nasceste, és isto. E era a verdade. Como a verdade era simples era imediatamente transcendida, não fascinava. Não havia idiossincrasias para admirar, nem defeitos para corrigir, éramos meramente o círculo da eterna repetição, e o ponto central do paradoxo matéria – espírito, visível – invisível, estado – ser, etc., etc., etc.

E logo, logo, os sábios transcendiam dizendo: a força do círculo é uma interrupção na nossa viagem. É uma trela que nos foi colocada pelos nossos adversários espirituais. Ela mantém-nos passivos e preocupados, ela retira-nos a vivência do potencial criador com que nascemos. A outra força além do círculo é o caus, e o caus com u é atingido pela disciplina na arte de intentar.

O caus provoca o círculo fragmentado, e para nos meter medo ele fragmenta-se ainda mais quando sente a onda do caus. E ele tenta defender-se gerando tantos cadáveres de si mesmo, que se tornam impossíveis de conciliar nas soluções práticas que tentamos usar para evitar a dor. E a dor atinge-nos sem que consigamos preparar defesas, e ela penetra bem até ao centro do nosso vazio morto interior. Mexemos incomodados no nosso casulo. E tudo o que nos permitia ser ovelha falha na coerência, a onda do caus é desconcertante.

Mas, Guerreiro, encorajo-te a seguires esta trilha até ao fim. Não temas, mas prepara-te bem. Não desprezes o amor. Aprende a amar o Amor, e a treinar-te na sua disciplina sem recusares os seus ordálios. Aprende a gozar as restrições do Amor e a ver nelas a essência da tua liberdade. E cresce nos 7 passos do poder, despe a fé, despe o orgulho, despe a arrogância, e o liquido caus vai conseguir furar e penetrar no óvulo da RAZÃO.

E os líquidos dissolvem-se e tornam-se orgânicos. A tua mente e a tua energia unem-se e tornam-se orgânicas. E isto é o corpo de luz.

Completa esta obra filho, seguindo a luz de um guia que te espera oculto nestas folhas que aqui lês. Os 4 livros que escrevemos com o nome de Phalucifer formam o portal mágicko da tua esfera, percorre-o com os deuses meu querido, e encontrarás o conhecimento e a conversação com o teu sagrado anjo guardião.

Que assim seja.

Assim é.

Ámen.

SATANIAON

A língua dos insectos
Foi falada por mim
Quando descobri o que
Foi que aconteceu quando
Adormeci, e a minha
Consciência morreu
Para renascer no dia
Seguinte, aparentemente
Igual, nunca desconfiei
Que fosses tu
Que me tocavas
Todas as
Noites…



















O SALVADOR

I - A música.

As tainhas do Tejo saíram do rio de mão em mão, uma turba, uma multidão, fazendo pés das barbatanas e pulmões do coração, saíram elas, com um olho a espreitar para cada lado.

E houve uma que disse logo para a outra:

- Nestas cidades só vive a espécie mais baixa dos humanos, só aqueles que se alimentam de imundice.

A outra assentiu gravemente. No seu intimo pensou que estas criaturas citadinas, apesar de monotonamente todas iguais, eram também criaturas vivas e até tinham a sua beleza, a sua capacidade de resistência tornava-as especiais, de uma forma.

- Outro dia jogaram uma ao rio, já morta. Achas que alguém a comeu? A quantidade de toxinas que deve ir para ali. Que nojo. – Continuou a outra.

Sim de alguma forma comer aquilo deve ser nojento, admito que não o conseguiria.

- bem, mas são tantas, olha só para ali.

- Parece uma infestação.

- Até me admira ainda não terem sido exterminadas. Que imagem aberrante.

Era uma multidão de pessoas a passear ao sol, a alimentarem-se de restos orgânicos em sacos de plásticos e caixas de cartão. Algumas saíam de dentro de uns animais horríveis que rugiam como leões e enchiam o ar de fumo nas suas corridas a grande velocidade. O barulho ensurdecedor das feras, como lhes chamamos, enchia a atmosfera, e de vez em quando um parava, vomitava pessoas e elas saiam como se não tivesse passado nada, ainda lhe faziam festinhas e depois dispersavam a palrar alegremente. Andavam aos molhos ao acaso junto ao rio, sem qualquer graça ou adorno de intelecto. Uma imagem desgraçada…

Ficámos a olhar as duas, tentando apreciar a beleza da vida naquelas criaturas, afinal era o único sinal da presença da natureza naquele sítio dominado pelas feras de metal.

Subitamente duas das feras lançaram-se uma contra a outra, houve um estrondo terrível e depois seguiu-se um grande alarido. Algumas pessoas que deambulavam junto ao rio viraram-se apatetadas e foram a correr até aos monstros. Estes fumegavam de fúria, um deles sangrava abundantemente. Juntaram-se feras ainda maiores ao redor que gritavam tão alto que se tinha de tapar os ouvidos, e as pessoas reuniam-se em volta das feras aleijadas. Por muito que olhasse não compreendia como estes dois seres comunicavam, era uma espécie de simbiose entre a pulga e o tubarão.

Algum tempo depois tudo voltara ao normal, o mesmo acaso plácido e sereno, rodeado do zumbido ameaçador do predador.

II - O sangue da música é veneno.

A minha amiga joga água para cima delas e uma onda parece mexer todo o rebanho de incómodo.

- Viste? Viste? Assustei-as.

Tenta repetir a façanha, mas agora todas se mostram indiferentes e simplesmente caminham mais longe de nós.

- Olha ali. – Apontou para um sítio cheio de plásticos vermelhos e armações de metal donde saía um matracar repetitivo, provavelmente o cantar de alguma fera escondida na escuridão. Não havia um único pedacinho de verde nos sítios onde as feras andavam. O espectáculo era de morte e poluição, não fosse os grupos de pessoas que se juntavam retirando pedaços de comida da boca da fera. E eu interrogava-me, porque é que as feras toleram as pessoas? E como é que elas conseguem sobreviver no meio de tanta sujeira? Que curioso, neste sitio parece que a natureza operou ao contrário…

III –  A música são as formas do Caos traduzidas em sentimentos e impulsos cerebrais.

Todas tão iguais, todas tão feias. Se visse uma sozinha a passear entre as árvores, talvez me parecesse bonita. Se não soubesse o que era uma pessoa da cidade talvez até me aproximasse dela, talvez até a comesse sem sentir nojo. Elas conseguem viver junto às feras, mas algumas delas também devem sentir falta das árvores e dos rios limpos… como eu. No fundo, eu como porcaria todos os dias. O nosso rio ficou sujo com o excremento das feras e todos os peixes morreram excepto nós. Não somos tão diferentes dos nossos vizinhos humanos, se bem que ao menos, cada uma de nós é bem diferente da outra, e comemos coisas decentes, e não nos aglomeramos como rebanhos imbecis à volta das feras. E daí… Aquela gente de Alcântara, vista de fora, deve parecer uma bela corja.

Às vezes gostava que limpassem o rio, e que voltássemos a ter vida aqui! Sei que ia haver peixes ferozes que nos comeriam, mas não quero saber. Sou o único a pensar assim. A maior parte das tainhas sente-se afortunada pela chegada das feras. Embora não tenham feito o rio mais bonito ao menos trouxe-nos segurança, ordem, sociedade, maior esperança de vida, etc.. é difícil argumentar contra coisas tão nobres!

Mas eu gostava de viver lá fora… dizem-me para ir, que não é preciso viver aqui para sempre. Mas tenho medo de sair sozinho.

Provavelmente seria comido assim que saísse.

É como se houvesse um muro invisível à nossa volta, um muro feito de medo e é como se esse muro estivesse subdividido em muros mais pequenos que nos impedem de conhecer e tocar os outros à nossa volta. Só ouvimos os sons do outro lado da parede, abafados pelo clamor surdo da rocha que nos separa. Dentro do seu muro, cada um representa as imagens que lhe parece aos outros desejável, por causa do medo do que possa estar para alem do muro, principalmente com medo que o muro rua. Dizia um poeta que o muro ameaça tanto quanto parece proteger, mas no fim ele sufoca de tristeza e solidão e o cadáver esquecido no seu interior permanece pálido à luz do luar. Os nossos sentimentos levam-nos a representar atrás do muro, e provocam-nos alucinações de felicidade e infelicidade, a vida parece penetrar no muro pela nossa imaginação, e distraímo-nos sonhando vagamente contra o monótono cinzento que corre nas veias pútridas dos nossos corpos isolados. Corpos de morte que nunca conheceram a vida. E nas bocas de cada um de nós mora um açaime, pois elas tremem de raiva assassina. De vez em quando o açaime rasga (ou alguém lá de cima o tira) e o cão louco ataca e é abatido e todos o criticam, assustados no seu intimo e aterrorizados ficariam caso se apercebessem da sua semelhança com a vitima/agressor. E os que nos controlam, porque controlam os muros, não usam açaime e matam indiscriminadamente. O seu muro é pintado por fora de todas as cores da liberdade, mas é só um muro como qualquer outro. Quando ouvem o rumor do vento eles, que o odeiam e temem mais que à morte, que o detestam como a si mesmos, eles retiram o açaime das massas, pintando umas de azul e outras de vermelho, e elas matam-se como podem, e o vento sábio que passou, parece que ninguém o ouviu no meio da estudada simulação de perigo, injúria e violência.

IV - O caos e a música serão a via da gnose e da criatividade.

As razões são fabricadas,

O teu mundo é assente em mentiras

E na tua mente preguiçosa,

Pensa, e logo existes. 

Mas será que realmente pensas?

Será que ages em conformidade com o que pensas?

Não serás mais que uma estúpida tainha

Do Tejo, com medo das águas limpas?

Não serás um hipócrita, ou melhor, um covarde defensor

Da liberdade, apenas porque não a consegues enfrentar

Sozinho?

A liberdade é tua, defende-a dando o exemplo.

Cala a matraca, esquece o muro, olha, ele é

Da tua altura, é fácil sair dele.

Mas se saíres, sai à noite, sorrateiro.

E camufla-te, pois embora a jaula seja deixada
Aberta, eles treinaram cães para te abater, e o primeiro
Desafio que irás encontrar não será o dos tubarões, mas
Os da tua própria espécie. E o pior destes és tu mesmo, se duvidares e olhares para trás.
Se sobreviveres ao encanto da viúva negra
Não haverá tubarão que te meta medo.

A lei do circulo é a passividade.

A passividade num mundo predador é

E sempre será sinónimo de fast food.

Realiza o Grande Rito antes de partires,

E quebra as 7 pedras do teu muro.

Prepara-te bem para o desafio, mas aceita-o já no teu

Coração. Meu filho, recebo-te nos meus braços,

Vou fazer de ti uma ave-do-paraíso.

Escuta sempre, e reconhecerás por detrás de todos os ritmos o meu nome oculto. Transporta-o para tudo o que a tua audição captar. Serás desperto e presente.

Phalucifer













VAZIO

Raios, dragões, esferas, trovões.

Desenho raios, grito esferas, choro trovões, canto dragões.

Rasgo gritos, parto desenhos, choro melodias, canto fantasias,

Desenho folhas de papel estilhaçado, rasgo desilusões em convulsões de gritos desesperados e sorvo as ideias nectarinas que escorrem do fosso, esgoto profundo e choro com força a melodia da solidão e canto esmagado a porcaria do coração.

Sou um só perdido no vazar das ondas, onde os barcos se debruçam estagnados no lodo da inveja e da preocupação que entope os canos do sentir. Enfarte cardíaco do tédio. Tumor cancerígeno da inquietação.

Sentado na praia a olhar o mar. Sossego.

Sentado num jardim a ver o cisne branco passar. Enamoro-me.

Sonhos.

E depois há a inundação febril do sexo e da fome e da fome de sexo, e o nojo das putas em sofás pulguentos ajustando as beiças às pilas de porcos que as conhecem melhor que às mulheres, que as amam de coração mais que aos filhos, que lhes dão notas de gratidão como não as recebem do patrão. Como não sorrir de tudo isto? O amor é para os inocentes.

Quem já viu demais, quem já provou demais, já não sabe o que é amar.

Amor é dinheiro.

Já não me atrai o dinheiro.

Não…

A nossa obra atrairá riqueza por si mesma,

Nós somos o clarão ela é o fogo.

Brilhamos dela, mas não partilhamos da sua fome.

Queimo-te, mas não partilho da tua dor.

Sou independente.

Ventre negro da criação,
Parto cinzento no esforço obliquo
…negro
Céu negro. Pântano.
Tristeza intrínseca e cegueira.
TERRA, tumulo negro do criador.
Fogo, cadáver frio.
Lago de ódio.
Fumo, esperança na recriação
E
O
Sol. Mero astro distante…



























LEITE

ESPERMA VIOLETA, ASA DO PASSARO
SEMENTE AZUL, VIBRANTE CASA DO SOL,
PENETRA A CHUVA, NO VENTRE ÉBRIO DA SERPENTE QUE
EXCITOU O DEUS DOURADO QUE MATOU O NOSSO
RISO E COM ELE A LIBERDADE E COM ELA A
MENTIRA GEROU A LEI E O AMOR FOI CAPITALIZADO. Oh, triste
AMANTE. Evadiu-te a saudade…

A discórdia, Eris
O caos,                 , tiveram um filho,
Eu.

O amor, Aries,
E a liberdade,                     , tiveram uma filha.
Tu.

Tu, a volúpia da razão e
Eu o mistério do sonho,
Teceremos o sexo dos Deuses: a imaginação,
E nele escalaremos o êxtase,
Abrindo as nossas mãos ao vento.
E o vento vai-nos levar unidos ao ventre da Mãe,
E ela gerará de nós – embrião – um filho.

O nome desse filho será Hércules,

E o Hércules, filho de um Deus e de uma

Mortal, quebrará todos

Os 7 muros e resgatará a alma

Da morte do mundo.

O Rito do Leão, tem o nome de Ágape.

A estrela da manhã e a estrela do entardecer, tem o nome de Lúcifer.

A sul brilhará Set. A este nascerá PAN, e a oeste Vesta recolherá as cinzas do sacrifício que a espada tomará a Si.

E o fogo do onze que se acende em espiral ao centro, conceberá de si o Homem, tu e eu estaremos nele como pai e mãe, como amantes, como irmãos, como filhos da mesma mãe, órfãos do mesmo pai.

E assim renascidos na Noite de PAN, ao nascermos teremos de lutar contra 7 demónios dos muros. E não penses que eles atacarão um de cada vez. Não, eles atacam todos de uma vez, mas nós temos de estar preparados para os vencer um de cada vez.

Só os podemos vencer amando.

E o cravo abrir-se-á ao peito,
E sobre ele cairá a lágrima de Deus que é sangue
E derrotado ele concederá o lugar
Para que possas enfim conhecer o que
Está para além do muro
Deus é o símbolo do finito, da ignorância do
Infinito.

O branco e o vermelho só podem ser vistos pelos olhos negros do caos.

O mais antigo dos deuses é nenhum.

A mais antiga lei dos homens é a anarquia.

O temp(l)o é um circulo, ao encarnares a origem,

Intensificas o tédio e conheces a origem do

Pensamento, que é tédio.


Já repeti a formula mil vezes.

Estarás tu preparado?

Conseguirás tu transformar-te em circulo, amares a disciplina, libertares-te da “liberdade” do capital, regressares ao espírito do monge e do aristocrata, ensinando os teus nervos a exigirem unidade e continuidade de toda a existência, e lutarás tu até te doerem todos os músculos de exaustão pela verdade, ou pela exaustão dela no teu sangue…

Mesmo sabendo que esse caminho é só um truque para intensificar a consciência da dor, e do tédio por detrás da dor. O imenso tédio de viver.

Matas o tempo. Toda a gente tenta matar o tempo. O veneno mais certeiro nunca foi vendido. Mas todos esbanjam o que têm para o tentar, nem que seja por um bocadinho!!!!!

O tempo é a morte, a linearidade, a conclusão. E o tempo está sempre presente. Insuportável.

O tempo é a fábrica dos sonhos fúteis dos homens, o tempo é um círculo, mas só o nobre, o romântico, o louco, o herege, o selvagem, o debochado e o desesperado o conseguem compreender. E só aquele que foi todos estes o consegue transcender.

Então…

Ora a Satã e ama mais o mal do que o bem,

Age só em favor de uma causa superior,

Ama e desiste de tudo por amor,

Cria e destrói-te no fluido livre da dor,

Grita e mata e come o que mataste,

Faz da vida um glorioso e constante acto masturbatório

E aceita a solidão, sem medo da pistola.

Tu irás transcender o circulo,

Quando amares a gorda, a esquálida e sentires nojo da vulgar,

Quando a docilidade te parecer perversa e só te apetecer o fraco esmagar,

Quando a religião se tornar como um chicote na tua mão

E sentires prazer de torturar e humilhar os seus ministros, em nome de
                                                                                                Deus… cuspir
Com escárnio nos olhos cegos dos descrentes e rires-te da cruz dos

Hipócritas, dos escravos engravatados, e dos letrados, então quando tu

Te sentires perder a razão e somente te entregares ao riso e ao delírio, tu

Irás seguir em frente mesmo na ultima escuridão, como se fora ela repleta de luz,

E quando o clarão do sol brilhar ao fundo do túnel, e mesmo aí tu voltares atrás,

Trocarás a salvação por um ultimo beijo da tua amante, então quando

A tomares nos teus braços e vires a morte existencial reluzir azul no negro

Dos seus olhos, e a noite alastrar dentro deles, tu irás partir então,

Sem saber o que te espera, e ela vai lutar, e os teus olhos nos dela vão secar,

As lágrimas e o desespero, e só a sombra do vento sobre o mar ficará para ela a recordação.

Tu foste com o luar. O desespero é apenas uma vibração exótica do tédio,

E tu segues o teu caminho com sonhos tão altos que ninguém viu,

Tu caminhas de pés descalços onde a estrela prateada te guia,

À boca do dragão do desconhecido.

Salve, Ó Campeão do Labirinto de Minos,

Salve, Ó Destruidor dos Sete Templos de Hera,

Salve, Ó Herói mergulhado no Lago da Imortalidade.

Salve, Ó Diónisos, e

Salve a Hora abençoada da Vossa Morte.

Que a Trindade dos Verdadeiros Deuses

De Vós se aproxime e vos reconheça,

Como um Deles, e Vos encaminhe através do Portal da

Nave Espacial onde devereis receber

A Coroa do Duplo Mundo.

Anpu e Set, Hoori e Tehuti, Auset, Néftis e Ausar aguardam por ti, homem do Mundo, Amante imortal, eremita das multidões.

O deserto vibra vermelho ao sol da vontade impecável do teu coração.

O boi foi glorificado e Moisés morreu desprezado e Jesus apodreceu no esgoto em que os rios se tornaram, e as águas de aquário formam-se da evaporação do sangue das raças extintas, e nas nuvens o Rei Falcão irá satisfazer a sua sede de vingança. E a Maat será restabelecida no coração dos homens.

A profecia foi dita e repetida. Quem tiver ouvidos que oiça, Amen.












































ANIVERSÁRIO

Criei-te meu olhar.
Os muros são vazios por dentro.
E o grito continua paralisado.

A construção é oca e obedece ao olhar do vento. O céu azul expande-se sobre o branco da alma e a árvore da vida permeia os dois e frutifica esmeraldas. Olhos de serpente azure. Gritos de melancia. Suaves delicias no suspiro terno de te beijar numa praia ao luar. Vazio, inferno e.

Beijos quentes, sôfregos. Apalpámo-nos com desejo, e o vento frio com espuma do mar e a rocha dura, concava, irregular, e os olhares indiscretos de alguém a passar, Ah! Morte a tudo isto, riso, só aumentam o desejo de te amar. Se ao menos este fogo fosse eterno!
Depois o crocodilo arrastou-nos pelo Inverno até à boca do inferno e um peixe-lua engoliu-nos…

E eu fui, e eles espetaram o dardo e o dardo dividiu-me em dois e ao olhar-me eu ataquei-me como se ataca um inimigo. Espetei a faca bem fundo no meu próprio crânio, trespassando o coração. Sabia lá eu… E sangrei, e sofri, e só então me apercebi do demónio alado, que sempre esteve lá, a sorrir na sombra de chamas multicolores, e o seu sorriso de carrasco, e também vi a poça de sangue, cruelmente derramado por mim mesmo de mim mesmo, um ser sem feitio: AH! Eram estas letras de solidão. De sofreguidão. Que desespero lunático te ofereço, meu amigo.

Mas a que custo?

Nada por dizer. Perdi-te, perdi-me e a terra que me cobre e a terra que te cobre separa-nos e apenas os vermes que circulam da minha campa para a tua, comunicam a saudade e o sofrimento do abandono a que nos forçamos. Fado, conhecimento? Sim…

Corvos.

No fim de tudo o que significa ser escravo, se não aquele que aceita a sua condição de inferior. E somos todos escravos, tu e eu, apesar de toda a guerra e magia. Somos escravos ao telefone de palavras vazias. Despejados de conteúdo, entediados…

O fogo, o fogo é um astro e arde sem saber, e o tempo, o tempo é pequeno, e está sempre a esconder-se.

Hoje é o dia do meu aniversário.

Nocturnamente azul
Vitória vermelha
Raio escarlate.

Escorre pela pele
E penetra-me as veias
Interstícios radiculares.

Membranas celulares violeta
E núcleos esponja
Sorvem o ser-essencia
Poesia.


Tornam-me medula de ti
Teus ossos recriam-me a mim
No sopro de sangue
No fígado de marfim
Onde depositei o esqueleto
Do deveria ser e será.

Matemática expressão
Do finito equilibrado ao extenso demais infinito
Sorriso da lua às suas estrelas
Amarela impaciência, desejo de te ver nua
A partir de dentro,
Despir-te até às entranhas
E ver a tua pele como a nudez mais pura,
Ver o teu chapéu e adorá-lo como a um astro,
Ferver de êxtase no teu sobretudo de Inverno e
Sobretudo ferver de exaltação no delicado
Odor da tua cigarrette.

Toda a poesia de te exteriorizar,
Toda a futilidade do orgasmo que te produz.


Vestiste cansada

Uma camisa de silêncio

E saíste pela estrada

Amaste em vão o imenso

Grau amestrado

Do amplexo denso

Da ausência

Perdurar…

Perdurar contra a matéria

Doce feitiço do vazio

Duplo do encontro de Jesus e Maria

Quádruplo, Mário

Quíntuplo.

Descansar contra os muros do isolamento

Sangrar das feridas o sofrimento

Licor azul do esquecimento

Ferimento.

Rasgar o périplo solar

Voar além do branco luar

Face morta, regressar

Matar.

Afinar os dedos com a voz do coração

E partir – ão, ão, ão

O cão ladrou, ão, ão,

E não voltou, não, não.

Fugiu, o dono atirou o pau ao ar

E o caçador atirou

E venceu.

Venceu.

Venceu.




































O fogo arde sem se ver, não há tempo a perder.

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